Cartas na mesa

Tudo que envolve a decisão do próximo domingo entre Bahia e Vitória – dentro de campo – tem sido muito interessante. Para o jogo em si, os ingredientes têm formado um bolo tenso, porém animado. A vantagem tricolor é completamente reversível. Ney Franco tem feito questão de buscar qualquer fagulha de motivação para inflamar os jogadores. Do outro lado, Marquinhos Santos não pensou duas vezes em fechar o grupo e impedir que qualquer oba oba externo tire o foco dos comandados.

A estratégia escolhida pelos treinadores e a entrega dos jogadores vão definir o campeão. Rei do óbvio, né? Mas são as cartas na mesa. Pelo que conheço de Ney Franco, imagino que ele virá com escalação e postura bastante ofensivas. Só não sei o que ele fará com a dupla de zaga. Vejo Wilson; Ayrton e Juan; José Welison, Cáceres, Marquinhos e William Henrique; Souza e Dinei; com marcação alta. Marquinhos e William jogando em cima dos laterais tricolores, com Souza saindo da área para flutuar entre os volantes tricolores.

A outra opção do treinador rubro-negro é escalar Euller, já que Mansur vem muito mal, na lateral esquerda e manter Juan no meio de campo. Como bem (lá ele) lembrou meu amigo Glauber Guerra, Ney Franco gosta de ter uma opção de velocidade para o decorrer da partida. Nessa alternativa, que deixaria o time de certa maneira mais compactado sem perder a ofensividade, sobraria para Marquinhos ou William Henrique. Eu escolheria o primeiro para iniciar a decisão. Juan não é nenhum jogador cerebral, mas ocuparia a faixa central e distribuiria o jogo.

Independente da escolha, o rubro-negro deve ir para o sufoco desde os primeiros minutos. Marquinhos Santos, que conseguiu anular as virtudes rubro-negras na primeira partida da decisão, precisa preparar o time tática e psicologicamente para não cair na provável correria do Vitória. Teoricamente e basicamente, precisa repetir a estratégia. Congestionar o meio de campo e aproveitar os espaços na intermediária. Lincoln, Talisca, Rhayner e Maxi serão fundamentais nisso. Eles precisam jogar próximos e terem liberdade para atacar. Em contrapartida, a variação na recomposição terá de estar bem azeitada.

O substituto de Uellinton e uma possível saída de Lincoln devem estar pautando os pensamentos de Marquinhos Santos. No primeiro caso, acredito que o escolhido será Rafael Miranda. Além de, taticamente, manter mais ou menos a mesma disposição que o titular suspenso, Miranda pode dar um suporte defensivo melhor para Diego Macedo, que marca muito mal. Pittoni é a outra opção (seria minha escolha). Com ele, o time ganha na saída de bola, visão de jogo, aproximação e controle da bola.

Entretanto, o paraguaio pode ser escolhido para outra função. Caso Marquinhos queira liberar mais Rhayner, fortalecer a marcação e a posse de bola no meio de campo; pode ir de Pittoni no lugar de Lincoln. Especificamente para esse caso, vejo como uma boa opção, se Rhayner, Talisca e Maxi tiverem liberdade e os laterais, em revezamento, ataquem. E Pittoni também utilize a aproximação costumeira. O fato é que, independente da escolha, o posicionamento tático e a postura dos jogadores têm de ser para jogo. De maneira nenhuma o Bahia pode deitar na vantagem, recuar demais e dar campo para o Vitória se impor. Se fizer isso, correrá um risco bem maior do que o natural de uma decisão como essa.

As cartas estão na mesa. Que vença quem conseguir impor a estratégia. Minha única preocupação é fora de campo. Tenho visto um clima bélico desnecessário. Futebol é lúdico e não guerra. Cada um é mestre dos próprios pensamentos e riscos. Se os rubro-negros estão incomodados com a suposta “invasão”, que comprem os 90% de ingressos destinados, tirem onda, e não façam essas ameaças descabidas. “Dar proteção (cordão de isolamento) a possíveis torcedores que estejam no local errado seria ferir uma lei e dar cobertura para aqueles que não respeitam a mesma”. É sério isso?

Certo ou errado, sempre fez parte da provocação, gozação, ocupar mais espaço no estádio. O acertado não sai caro e os tricolores não deveriam ir, mas a motivação do mais empolgado é natural. Deveria ser mais um motivo de desafio, resenhas, disputas sadias entre as torcidas, mas não é o caso. Acho que a postura da torcida organizada aparelhada com a diretoria do Vitória, a TUI, de se posicionar como se fosse polícia, sem propósito. Não cabe a eles decidir absolutamente nada sobre o caso. Podem debater, cobrar que de alguma maneira os 90% sejam cumpridos, mas daí a se colocar como órgão fiscalizador e punidor, é querer criar uma justificativa antecipada para covardia. Que todos tenham bom senso!

“Jogamos por ele”

Poderia ser Guardiola, José Mourinho, Marcelo Bielsa ou qualquer grande nome. Não se trata (apenas) disso. Nunca gostei desse tipo de declaração e pensamento. Ao final do BaVi, questionado pelo repórter do PFC sobre Marquinhos Santos, o volante Fahel me saiu, entre outras, com essa perigosa frase: “nós jogamos por ele”. Com toda minha ingenuidade, achava que o cara jogava por quem lhe paga. Também por prazer, pela família, pelos amigos, por obrigação, sei lá, mas pelo treinador? Sei que possivelmente se trata apenas de mais um clichê boleiro, como o “graças a Deus”; “o grupo tá unido”.

Entretanto, visto de fora, essa declaração cria situações complicadas para todos. A diretoria é obrigada a pisar em ovos. Pensam logo, “se demitirmos o treinador os jogadores vão pirar”. Para os próprios atletas a declaração não ajuda. Parece demonstrar seriedade, foco, mas só traz a torcida, ainda mais, contra o grupo. Já que a maioria dos tricolores, quase unanimemente, não tem gostado nada do trabalho de Marquinhos Santos. É um momento complicado para o clube. Os jogadores precisam saber agradar os torcedores. Não peço que digam que Marquinhos vai mal, mas que pelo menos respeitem a opinião do torcedor.

Depois desse desabafo, peço desculpas por não estar atualizando com a periodicidade necessária o blog. É uma mistura de desmotivação com falta de tempo. Cheguei a iniciar parágrafos, mas não saia do primeiro. Porém, depois de o clássico e com tanta coisa acontecendo nos bastidores, não poderia deixar passar mais um dia. Realmente o “futebol” apresentado pelo Bahia nesse inicio de temporada tem sido assustadoramente ruim. E muito disso passa pela falta de convicção e critério do treinador. Nunca se sabe o que esperar dele de um jogo para o outro. Ele não dá sequência ao time.

No BaVi, mais ou vez, o time foi mal escalado. A primeira alteração não fez o menor sentido e o time segue sem um sistema de jogo encaixado. Entrar com três primeiros volantes é limitar demais a criatividade. Nei Franco travou a subida dos laterais e, com exceção de um lançamento de Madson para Maxi, em lance que Marcão quase marca, foi só chutão. No gol do Vitória, Fahel falha no início e no final da jogada. Titi caiu toscamente e um contra-ataque que seria facilmente evitado, deu no que deu. O meio de campo não conseguia trocar três passes e quase não houve aproximação. Não por coincidência, um dos três marcadores só chegou perto dos atacantes na jogada já citada acima, com finalização de Marcão. Rafael Miranda deu a assistência.

Ainda estou tentando entender o que Marquinhos Santos quis ao colocar Wangler de volante pela direita. A principal característica dele é o drible curto em velocidade e o treinador o deixou impossibilitado de usar a virtude. O time foi mais agressivo, mas por necessidade e não por essa alteração. Wangler ficou perdidinho. O jogador para entrar no intervalo era Talisca (falarei mais a respeito em seguida). A sensação que ficou é de dois pontos perdidos por excesso de cautela e pouca inventividade (positiva). O Bahia segue engatinhando na temporada e não vejo Marquinhos ensinando o time a andar. Espero que ele consiga dar uma cara a equipe nesses dez dias até o próximo jogo, apesar de não acreditar.

Antes não tinha centroavante, mesmo com Rafael, Nadson e Zé Roberto no elenco. Se fazia tanta falta um jogador da função, por que não insistiu com um dos três? Agora me vem com a conversa que precisa de um camisa dez. Emanuel Biancucchi nem estreou. Não sei a razão para isso. Pensando de maneira genérica, dá a entender que não tem qualidade. Branquinho quando jogou, não foi aproveitado na função da maneira que o treinador chora por um jogador. Eu queria entender isso. Sempre teve jogadores para as duas funções e não os usa da forma que diz precisar. Das duas uma: ou quer sempre tirar o corpo fora das responsabilidades ou os que estão desde o início não prestam nem para preencher lacuna. Será?

Tão sem sentido quanto aquela estúpida lona preta separando as torcidas em Pituaçu é o sub aproveitamento de Talisca nos últimos jogos. Há muito tempo Talisca deixou de ser volante. É, no máximo, um terceiro homem. No BaVi seria o momento ideal para usá-lo na função que melhor rende, na meia, vindo de trás (lá ele), distribuindo as jogadas e com a intermediária a disposição para arriscar chutes de média e longa distância. Para mim é, sem dúvida, o melhor jogador de meio de campo do atual elenco.

A desculpa de Marquinhos Santos é queda de rendimento (?) e que está sendo preservado por ainda estar em um processo de transição base/profissional. Nos últimos jogos de Talisca como titular, passou boa parte das partidas mais avançado que Maxi e Rhayner. Me desculpe, concordo que ele ainda tem muito a evoluir em todos os sentidos, mas Talisca já tem couro suficiente para aguentar o tranco. O colocar atrás de Wangler na “hierarquia” do time é atestado de não saber o que tem em mãos. Espero que isso não seja um modo de conseguir a sonhada (por ele) contratação de Linconl. Tá puxado!