Tem gente que gosta, sente prazer, mas eu não. O faço quando percebo ser uma obrigação, uma necessidade. Ser o chato não é algo que eu queira ser. Em um momento de alegria, com sequência de dois triunfos sobre adversários tradicionais, após perder o clássico contra o maior rival, apontar problemas é complicado, todavia, imprescindível. O Bahia venceu Sport e Flamengo, contudo deu muitas brechas aos dois por deficiências técnicas e de ajustes na marcação. A segunda tem solução.
Inegavelmente, Gilson Kleina conseguiu encaixar um padrão de jogo com variações táticas. Nas últimas partidas, o Bahia varia sempre entre o 4.1.4.1, o 4.2.3.1 e um pouco menos o 4.4.2 com um quadrado no meio. No primeiro caso, Uellinton fica recuado, muito próximo aos zagueiros, com Diego Macedo bem aberto pela direita e Maxi/Rafinha pela esquerda. Marcos Aurélio/Emanuel (mais avançados e caindo mais pela direita) e Rafael Miranda (mais recuado e caindo pela esquerda) ficam mais por dentro (lá ele). Nas outras duas conjecturas, Miranda e Uellinton ficam mais próximos e muitas vezes Rafinha/Maxi caem pela direita e Diego tem mais liberdade de movimentação.
Tudo muito bonitinho, mas existe uma grave dificuldade. Quando Rafinha não joga, a marcação na recomposição se limita aos jogadores do sistema defensivo. Diego Macedo só faz a sombra. Emanuel dificilmente fecha a linha defensiva e não tem o menor cacoete defensivo. Maxi apenas uma vez por jogo acompanha o lateral ou volante que avança até o final. Depois fica só olhando. Essa situação de só observar sem encurtar, facilitou a vida de Luiz Gustavo no BaVi. Contra o Flamengo, a intermediária ficou quase sempre limpa para tentativas de chutes de fora da área. Por sorte, os pés flamenguistas não estavam certeiros. ‘
Outro grande problema defensivo é com os laterais. Guilherme Santos é estabanado, não tem um bote certeiro, se posiciona mal e inacreditavelmente marca a bola recuada na linha de fundo e não o cruzamento. Railan tem essa mesma deficiência. Não sei se é medo de tomar o drible, falta de noção ou sei lá o que, mas quase sempre o adversário tem muita facilidade de jogar a bola na área. Assim saiu o gol do Flamengo e outras situações perigosas. Mesmo com os zagueiros bem, complica. Ainda pela completa insegurança de Marcelo Lomba nesse tipo de lance.
São situações que precisam ser corrigidas, porém existe uma problemática: característica. Os jogadores utilizados na frente não têm como virtude a recomposição defensiva. Não se trata de marcação mordedora e simples encaixe de linhas, acompanhar o adversário até o fim da jogada. Por isso Rafinha não pode ser reserva. Mesmo com físico de sub-15, tem ótima noção de posicionamento e recomposição. E, ofensivamente, Maxi não tem tanta diferença para ele, principalmente quando inicia as partidas. Rafinha quando ataca pela direita, facilita muito as ultrapassagens de Railan.
Que situação, hein? Afirmar que Rafinha tem de ser titular é de doer o coração, mas o momento exige isso. Lembrando que estou falando em cima do que vem sendo utilizado por Kleina. Subir um pouquinho a marcação também ajudaria na redução dos espaços. Uellinton também não pode ficar tão colado nos zagueiros. Nas laterais, Pará tem de ser titular, contudo é preciso uma conversa dura com ele. É melhor que Guilherme Santos, mas tem exagerado em firulas e por vezes é displicente no posicionamento defensivo. Precisa colocar o pé no chão. Com Railan, tem de treinar o mano a mano na linha de fundo. É coisa da falta de experiência também, nos dois casos.