Fim de uma Era?

A queda de rendimento do Barcelona e a consequente perda dos principais títulos para os maiores rivais, já havia sugerido que o estilo de jogo, uma geração genial, começava a pegar a última curva da estrada. O desempenho completamente desmotivado, como se fosse o primeiro amistoso de uma pré-temporada, da Seleção Espanhola na Copa do Mundo, para muitos, sacramentou o fim de uma Era. Será?

Como toda equipe ou atleta que passa por um período praticamente invencível, a Espanha teve seu jogo completamente estudado. Muitos estilos já foram considerados imbatíveis até que alguém descobriu uma fórmula para subjugá-lo. Assim se deu com o ‘tiki taka’ espanhol. Acrescente a isso a falta de motivação. O time não vibra mais. Falta alma, sangue, como se diz na gíria. É a cara do cansaço. Temos aí a receita para o fracasso.

Dá para dizer então que o favoritismo espanhol nas competições chegou ao fim? Para mim, não! Vejo apenas uma necessária reformulação no elenco. Pequena e significativa, mas manterá um elenco poderoso. Quatro referências devem deixar a Fúria: Casillas, Xavi, Xabi Alonso e David Villa. São os únicos acima dos 30 anos e que, naturalmente, já não conseguem apresentar o mesmo desempenho físico e técnico de outros tempos. Xavi e Villa, inclusive, já tomaram caminho para ligas onde o dinheiro fala mais que competitividade. Catar e Estados Unidos, respectivamente. Lembrando ainda que Puyol, outro símbolo, já havia anunciado a aposentadoria.

A saída de cinco jogadores faz uma grande diferença. Ainda mais eles sendo quem são. Três eram capitães (Casillas, Puyol e Xavi), um era o batedor de pênaltis (Xabi Alonso) e Villa era o principal atacante, apesar de ter se tornado um mero coadjuvante nos últimos tempos. Entretanto, inegavelmente, a mais significativa é a de Xavi. Talvez o maior jogador espanhol de todos os tempos. Dos que eu vi jogar, foi o melhor. Só que pensem um pouco comigo. Juanfran, Azpilicueta, Piqué, Sérgio Ramos, Javi Martinez, Busquets, David Silva, Iniesta, Juan Mata, Javi García, Raul Garcia, Diego Costa, Jordi Alba, Negredo, Soldado, Pedro, Cazorla, Jesus Navas, Pedro e Fàbregas, ainda estão com idade e desempenho nos clubes para, juntos, formarem um timaço! E eu devo ter esquecido gente nessa lista.

Para completar, uma nova geração vem chegando forte. De Gea, Carvajal, Koke, Ilarramendi, Thiago Alcântara, Isco, Jesé, Morata, entre outros, indicam que a mescla com os mais experientes tem tudo para dar resultado. Jogadores a disposição para retomar o caminho das conquistas a Seleção Espanhola tem de sobra. E, como diz um amigo meu meio louco, no futebol, na maioria das vezes, o melhor boneco é que faz a diferença. Talvez o ‘tiki taka‘, por hora, tenha chegado ao fim, mas o futebol espanhol está longe de voltar a ser coadjuvante. Os resultados dos clubes comprovam isso.

Obviamente que será necessária uma mudança no estilo. Têm jogadores suficientemente qualificados e inteligentes para se adaptarem a um novo esquema, uma nova filosofia. Talvez nem precise de algo muito radical. Vejo um caminho mais “fácil” na busca por uma verticalização do jogo, com mais vontade de marcar gols do que de ter a posse da bola. O Real Madrid joga assim. A mudança do treinador se torna obrigatória nesse processo? Não vejo como uma necessidade, mas talvez Del Bosque não tenha mais o poder de motivação sobre os jogadores. E isso foi fundamental na Copa do Mundo.

Pelo sim pelo não, pode ser até que uma Era tenha chegado ao fim, com a morte do rei, mas o príncipe segue os passos do pai para ter um reinado próspero. Vejo a semente de novas gerações de grandes times plantada. Até o milionário e gastador Real tem investido pesado em jovens e na própria divisão de base. Ainda ouviremos falar muito da Espanha nos próximos anos.

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