O que falta?

Pelos jogadores que tem, inegavelmente, a Seleção Brasileira não conseguiu agradar na primeira fase. Apesar de eu achar o grupo subestimado (até Camarões, não fosse à falta de respeito dos jogadores, brigaria pela classificação), o time de Felipão ficou devendo e muito. Taticamente, o Brasil não tem rendido nem 40% do que pode. Por mérito individual de quem tem de resolver, a classificação veio. Com sustos, mas em primeiro lugar.

O Brasil comete um equivoco tático que parece encravado nos conceitos dos treinadores brasileiros. O time não consegue ser compacto. A linha defensiva é muito recuada e formada por apenas três jogadores: Thiago Silva, David Luiz e Luiz Gustavo (jogando demais!). O trio tem ido bem em todos os jogos, apesar de falhas aqui e ali, como a de Thiago no gol de Camarões. No terceiro dia da escolinha, se aprende que o zagueiro, caso não esteja marcando ninguém, tem de fechar a primeira trave no cruzamento. Tem de se eliminar a bola reta.

Os laterais avançam demais e não têm suporte defensivo para tal. Apenas Luiz Gustavo, extremamente sobrecarregado, consegue ajudar os dois, principalmente Marcelo. Paulinho tem sido peça nula na composição defensiva. Além de se posicionar mal, não antecipa, não faz coberturas, obriga Oscar a voltar além da medida e não articula o jogo. Com Fernadinho, o sistema de jogo teve um crescimento absurdo. Impressionante a diferença entre Fernandinho e Paulinho, em favor do primeiro. Luiz Gustavo finalmente terá um companheiro de fato e Oscar poderá ter mais tranquilidade para jogar.

Para o time não passar o sufoco que vem passando, quatro mudanças são necessárias. Duas técnicas e duas táticas. A primeira parece já ter sido feita, com Fernandinho no lugar de Paulinho. Aliás, tive até uma conversa sobre isso com meus amigos Darino Sena e Elton Serra. Ambos preferiam Fernandinho, enquanto eu, Hernanes. Os dois reservas, sem dúvida, fariam/fazem a função melhor do que Paulinho. E de forma alguma achava ruim que o escolhido fosse Fernandinho e não Hernanes. A minha escolha era exclusivamente pela característica do que por qualidade superior.

Penso que o time precisa de um jogador que cadencie o jogo, busque a bola atrás (lá ele) e organize o jogo com passes e lançamentos. Hernanes faz isso melhor que Fernandinho, entretanto o segundo também pode fazer isso e é superior na dinâmica de jogo, na marcação, velocidade e aproximação. Não há do que reclamar dessa escolha e sim comemorar. Creio que a tendência é um meio de campo, a partir dessa alteração, mais forte, sem tantos buracos e com uma recomposição melhor trabalhada.

As duas mudanças táticas necessárias são defensivas. Em vários momentos dos jogos, Luiz Gustavo vira um terceiro zagueiro. Jogando, inclusive, mais recuado que Thiago e David. Os três jogam muito e têm qualidade para sair jogando, além de serem rápidos. David Luiz também tem se mostrado um ótimo lançador, como bem lembrou Tostão em artigo publicado nesta terça-feira (24). Por isso, o posicionamento deles não pode ser tão recuado e distante do resto do time. Com a velocidade e qualidade técnica do trio, não há nenhuma necessidade de fazer a marcação e a saída de jogo tão recuados. Isso alonga demais o time e deixa a intermediária exposta, além de forçar lançamentos desnecessários.

Acho Daniel Alves e Marcelo melhores que Maicon e Maxwell, mas talvez os dois últimos encaixem melhor na maneira de o time jogar. Como essa opção é praticamente descartada, o posicionamento defensivo precisa melhorar. Daniel e Marcelo não podem fazer a primeira linha defensiva tão distante dos zagueiros. Isso facilita a triangulações em cima dos dois e deixa os zagueiros mais expostos. Com Fernandinho e a melhora do posicionamento dos zagueiros e dos laterais, o time se encorpa e fica difícil de ser batido.

A última modificação é do meio para frente. Especificamente na postura de um jogador. Gosto das inversões entre Neymar, Oscar e Hulk. Os três não ficam fixos na linha de três atrás do centroavante. Com as alterações no sistema defensivo, esse trabalho ficaria mais fácil de ser realizado e aumentaria a dificuldade em ser marcado. O problema ofensivo está na falta de mobilidade de Fred. Sei que por característica, é complicado para ele fazer isso, mas precisa se movimentar mais, aparecer para tabelas e não ficar tantas vezes em impedimento. Uma correção individual que faria o time evoluir coletivamente. Creio que com essas quatro mudanças ficaria difícil alguém evitar o hexa.

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