Intensidade

Para muitos o que mais vale no futebol é o resultado. Não interessa como: o importante é ganhar! Tenho lá minhas ressalvas quanto a esse pensamento. Na verdade, mais contras do que prós, entretanto existem momentos singulares em que essa premissa vale muito. Esse é o caso da conquista do título baiano pelo Bahia. O torcedor e a causa democrática precisavam disso. Não que tenha sido uma conquista com desespero ou lances irregulares. Longe disso. A questão é que o título era pontual desde o início. O clube precisava dele para exorcizar agouros do passado e alguns do presente.

O Bahia foi superior ao Vitória nos dois jogos. Obviamente, o time de Ney Franco teve momentos de supremacia, já que precisava buscar o resultado. Apesar de ter mostrado um pouco mais de padrão tático – pelo menos em termos de nomenclatura e de posicionamento – a conquista tricolor se deve aos fatores físicos e psicológicos. A entrega dos jogadores foi realmente algo louvável. Tanto é que, mesmo jogando com vontade, os rubro-negros passaram a impressão de que não tiveram raça.

Os tricolores correram demais. Estiveram bem focados na maior parte dos dois jogos. Só nos minutos finais da primeira partida e em parte do segundo tempo da última, que deram uma desacelerada. E era até natural. Não tem como manter aquela intensidade durante os 90 minutos, mas foi suficiente para vencer os 180 contra o Vitória até com certa tranquilidade. Poderia ter sido até mais tranquilo, não fossem as derrapadas de Diego Macedo e Pará e as chances claras desperdiçadas por Rhayner, Talisca e Rafinha. E, na moral, poucas pessoas nasceram mais viradas para a lua que Fahel. Esse é um miserável de sorte! Esse título, dentro de campo, tem a cara dele.

A euforia é natural, mas não me cabe ver o céu e o inferno apenas pelo resultado. A conquista teve um significado bem maior em termos de representatividade do que normalmente teria. Dará tranquilidade e credibilidade para a diretoria seguir tentando arrumar a casa nesse mandato tampão. No entanto, o caminho pela frente dentro de campo é tortuoso. Não me iludo com os resultados ruins nesse primeiro arco da temporada dos grandes de São Paulo, por exemplo. Não há a mínima possibilidade de o Bahia disputar o Brasileiro dependendo exclusivamente da intensidade utilizada nesses dois jogos contra o Vitória, para funcionar taticamente. O corpo não aguenta.

Já passou da hora de o time encaixar um padrão que não o faça ser dominado pelo Serrano, por exemplo. E isso foi há dois jogos. Sigo com o pé atrás com relação a Marquinhos Santos. O time segue agonizando taticamente, mas vejo uma sintonia maior dele com o elenco desde a saída de William Machado. De fato, parece ter conseguido o respeito dos jogadores. As contestadas (inclusive por mim) contratações de Lincoln e Uellinton o ajudaram no vestiário. Pelo menos nesse fator, tiro o chapéu para Marquinhos. Soube abraçar os comandados em um momento que parecia não ter volta para ele.

Desculpem falar sobre isso agora, mas a bola não para de rolar. Algumas modificações no elenco serão necessárias. A própria diretoria já admitiu a necessidade de reduzir o número de jogadores, independente de quantos cheguem para o Brasileirão. E precisam chegar. Existem carências claras no time titular e na recomposição. Não gosto de Talisca jogando tão avançado e Lincoln não vai suportar uma sequência de jogos. O ataque é o setor mais deficiente do elenco. Repatriar Erick, que esteva emprestado a União Barbarense é uma obrigação.

O ano está só começando e o Bahia deve a torcida uma participação com maiores objetivos no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil. Já tem uma base interessante para atingir metas mais ousadas, mas precisa fortalecer o elenco e o treinador organizar logo o time. Ainda não consegue trocar cinco passes e girar o jogo com alguma objetividade. Não dá para ficar esperando apenas erros do adversário. A conexão entre torcida e time passa por se impor na Fonte Nova. Se a diretoria conseguir ser certeira, o Bahia pode ter um ano sossegado dentro de campo. Assim, o extracampo será resolvido com maior tranquilidade.