Necessidades

Sempre acho engraçado quando falam a respeito de contratações (para alguns) desconhecidas “é uma aposta” ou “vou esperar jogar para criticar ou elogiar”. No entanto, também sei que futebol não tem fórmula pronta e por isso entendo quem pensa dessa maneira. Agora, para um analista, resumir questionamentos e projeções a algo tão simples é melhor escolher outra coisa para fazer. O histórico sempre aparece. O que fez recentemente e a perspectiva de dar certo ou não.

No futebol o certo e o errado andam lado a lado. Um vive pregando peça no outro. Quantas vezes já não pensei “esse time vai dar merda” e o sacana foi lá e resolveu? O inverso também acontece sempre; “rapaz, que time é esse? Vai brigar por todos os títulos”, mas simplesmente não acontece? São muitas variáveis, muitas razões que levam um elenco a dar certo ou não, independente da qualidade técnica e histórico recente positivo dos jogadores.

Tenho em mente que qualquer contratação é uma aposta. Seja o cara desconhecido ou famoso. Vindo de temporada boa ou ruim. Para o que não funcionou, sempre gosto de utilizar os exemplos de Ibrahimovic no Barcelona e Kaká no Real Madrid. Do outro lado, exemplos recentes na nossa realidade: Fernandão no Bahia e Juan no Vitória “Ah, mas como vai se contratar então?”. O que diferencia e deve ser levado em conta é a perspectiva que o sujeito apresenta e necessidade do elenco. Deve ser pesquisado o porquê de ter dado certo ou errado, se é algo superável, a motivação, a condição física, família e por aí vai.

Logo de cara, com as nove contratações feitas até agora, se percebe um claro desequilíbrio. Para justificar a troca Feijão/Rafinha, o diretor de futebol William Machado disse que o Bahia está bem servido de volantes. Aí olho os nomes: Fahel, Rafael Miranda, Hélder e Diego Felipe. Correndo por fora, Anderson Melo, incorporado às pressas. Se o mérito técnico for dado, o guri será titular! Aí penso, os três últimos jogam de segundo ou terceiro homens de meio. Rafael não mostrou ano passado que pode vir a ser primeiro volante. Sobra quem? Fahel! É assim, William, que a posição está bem servida? Resta, então, a Marquinhos Santos a obrigação de fazer o prometido em reuniões internas e jogar com eficiência sem volante de pegada. Nunca jogou dessa maneira no Coritiba. Seria um sonho!

Rafinha é um jogador rápido e técnico, que fez um Campeonato Carioca interessante em 2013. Quando chegou no Brasileiro não conseguiu dar um chute na bola. O nível da competição é outro. Parecia um Sub-15 no meio dos profissionais. Arrisco a dizer que Hugo será mais útil do que ele. Têm características parecidas, mas Hugo tem mais força, explosão e experiência. E creio vem com muita vontade de crescer, enquanto Rafinha deu seguidas entrevistas lamentando a saída do Flamengo. Ainda nessa posição, cada um com o estilo particular, o Bahia já tinha Erick, Rhayner, Ítalo Melo e Zé Roberto. Ou seja, possui seis jogadores com a mesma legenda: tem talento, boas perspectivas de crescer, mas que precisa suprir carências físicas, técnicas, táticas e de experiência. Precisava mesmo de Rafinha?

Não se trata de dizer que vai dar certo ou errado, mas de apontar necessidades. A carência para o setor continua de um cara mais cascudo, encorpado, experiente, e tenho informações que estão buscando. Caso seja confirmando, desses seis, apenas um vai jogar. Pelo menos é essa a projeção inicial. Entenderam o ponto? O Bahia seguirá precisando contratar outro meia atacante e, agora, também vai precisar trazer outro volante em breve.

E no ataque, as opções são de jogadores em busca de recuperação. Nadson, Jonathan Reis e Rafael Gladiador. O primeiro não é tão homem de área como os outros dois, mas pode ser o centroavante. Vem de um ano se recuperando de duas cirurgias no joelho. É sempre complicado. Jonathan era um talento, conseguiu superar problemas com drogas, porém após gravíssima lesão também no joelho, nunca mais foi o mesmo. Não consegue mais jogar no nível anterior a contusão. O que jogou nas últimas temporadas não é suficiente para a necessidade tricolor. Espero que a nova casa o faça recuperar a qualidade. Rafael consegue ser mais execrado pela torcida que Madson. Nunca duvide do futebol, mas hoje é óbvia a necessidade de um homem de área.

Na defesa a única contratação significativa foi do lateral direito Galhardo. Não penso ser a praga do Egito que muitos amigos acham, mas não sei se será a solução. Espero que tenha amadurecido. Terá uma chance de ouro para recuperar o futebol já apresentado quando mais novo. Queria que tivessem conseguido emprestar Madson e Jussandro. Esses sim precisam pegar rodagem em outro clube. No Bahia a torcida não os deixa desenvolver, principalmente o primeiro. Não aposto em evolução de Raul. Acredito que apresentou o limite em 2013 e, se não foi um desastre completo, também não empolgou. Não duvido que Jussandro ganhe a posição, mesmo com a torcida olhando torto. O ideal seria Ávine voltar às boas, mas infelizmente é o quadro mais difícil de ser escrito.

O vice-presidente Valton Pessoa afirmou que ainda faltam as “duas cerejas do bolo”. Falando dessa maneira, nos leva a crer que sejam os nomes, teoricamente, dos jogadores “diferentes”. Os cascudos, para quebrar o gelo com a torcida e dar experiência ao setor ofensivo, por que com certeza são nomes do meio para frente. Hoje, o ataque me preocupa, as laterais me preocupam e Fahel como, basicamente, única opção de primeiro homem, me preocupa mais ainda. Espero que Marquinhos Santos consiga suprir essas necessidades. No Nordestão e no Baiano pode até ser, mas e no Brasileiro?

SMS

Estava disposto a voltar a atualizar o blog apenas na próxima semana, com as coisas mais definidas, mas fatos “finalizados” no penúltimo dia de 2013, me fizeram abandonar a ideia. E antes que os “Risadinhas” da nova gestão venham com sete pedras na mão, para se receber a comemorada SMS, é preciso haver negociação. E o clube confirmou, via redes sociais, que a mesma existe. Sim, acho sensacional essa ação de divulgar primeiro para os sócios os negócios fechados, mas não misturo as coisas. Um abraço ajuda, entretanto não apaga completamente uma ofensa.

Antes de entrar na pauta principal desse texto, acho que terei de explicar o parágrafo acima. Para quem já esqueceu, Risadinha é ex-conselheiro e assessor de Marcelo Guimarães Filho, que o defendia com unhas e dentes, independente dos fatos. Não interessava se bom ou ruim. Muita gente, por amizade com pessoas da nova diretoria e/ou deslumbramento pelo “novo Bahia”, não aceita críticas. Mesmo as construtivas – as únicas que me presto a fazer. “Só acredito no SMS”, virou frase para debochar e ridicularizar a imprensa. E não é recalque meu. É preocupação com tamanha benevolência. Seja ela merecida ou não. Atenção e cobrança, justas, são sempre bem vindas.

É inegável que Feijão teve uma queda impressionante de rendimento. Perdeu tempo de bola, os passes já não tinha a mesma precisão, batia mais do que desarmava e sempre se arriscava no ataque chutando de qualquer jeito. Natural o deslumbramento com os elogios, aumento de salário e de reconhecimento. Sem falar que a transição física, técnica e tática também tende a envergar. O limite é atingido mais cedo nos dois primeiros anos no profissional. Essa normal escorregada não torna necessário um empréstimo. Feijão é um caso bem diferente do de Madson, por exemplo.

Feijão é garoto propaganda do plano de associação, completamente identificado com a torcida e tem potencial para se tornar um ídolo. Além disso, na realidade dos volantes tricolores dos últimos anos, precisa ser tratado com cuidado, carinho e objetividade na maturação dos fundamentos. Melhor ferver o feijão em casa do que colocar numa vasilha e levar para requentar na casa dos outros. Feijão precisa ser controlado e melhor preparado e não descartado tão facilmente. E, em troca por Rafinha, melhor apostar em Ítalo Melo e Zé Roberto. O Bahia precisa de referências, de preparar os próprios garotos e não maturar a base dos outros. Mesmo achando Rafinha um bom jogador.

Pior do que essa troca – tem tudo para não acontecer pela revolta da torcida nas redes sociais – seria o empréstimo de Lourival e Gabriel Santos para o mesmo Flamengo, com o pensamento de dar rodagem. Sempre acho que cada caso é um caso, mas não sou favorável a emprestar garotos com idade de base para ser preparado pelos outros. No mínimo, atesta suposta incompetência em trabalhar a própria gurizada. Jogador se empresta para dar rodagem, quando estoura a idade de base e não consegue espaço no profissional. Ou que cai em desgraça com torcida, como o caso de Madson.

Sem falar que a multa rescisória é calculada pelo salário do jogador. Se muito, esses dois guris recebem uns R$ 4 mil. Aí eles se destacam lá e o Flamengo, sem coçar os bolsos, leva dois jovens muito promissores praticamente de graça. “Os bastidores do futebol é guerra, pai!”, já diria o poeta. E essa nova diretoria, ainda bem inexperiente no meio, precisa entender nisso. Não existe “amiguinho”. A segunda intenção está sempre ali esperando a brecha. Como contratar só jogadores de um mesmo empresário abre espaço para várias interpretações. Duas delas são empurrar os empresariados que não interessam e exigir prioridade, porcentagens, em negociações futuras.

No mais, esse episódio serviu para alertar os defensores cegos da atual diretoria. Defenda, mas não seja omisso. Vigilância nunca é demais! Honestidade e boa vontade não criam automaticamente e, sempre, competência e conceitos benéficos ao clube. Criticar também é ajudar. Se ofender com críticas construtivas é o primeiro passo para inflar o ego e cometer equívocos. E os dirigentes tricolores mostraram que escutam a torcida. Não que tenham de fazer tudo e abandonar a convicção, mas essa interação é excelente. A comoção levou uma negociação fechada, a praticamente voltar à estaca zero. Isso é democracia!